Elias Queiroz (*) |
“No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
Navio Negreiro
Castro Alves
Início parabenizando esses jovens pela iniciativa e coragem de mostrar um pouco da cultura negra. Cultura que pode ser vista, principalmente, através da dança.
As culturas de matrizes africanas ao longo do tempo têm sido silenciadas e apagadas em nosso país. No entanto, temos em nossa sociedade um legado cultural pautado em tradições orais que, constituem um patrimônio imaterial de matriz africana que foi conservado por meio da memória, relatos orais, impressionantes histórias e poemas cheios de encantos - um lindo poema que deveria ser lido por todos é este de Castro Alves citado acima.
A cultura do nosso povo negro não pode ser lembrada só no mês de maio, na data que lembramos a abolição da escravatura, deveríamos lembrar incansavelmente o papel dos homens e mulheres escravizados no nosso país e que cujo legado é muito importante para nossa cultura. Um dos legados deixados por eles foi à dança.
A dança originou-se na África como parte essencial da vida nas aldeias. Ela acentuava a unidade entre seus membros, por isso era quase sempre uma atividade grupal. Em sua maioria, todos os homens, mulheres e crianças participavam das danças; batiam palmas ou formavam círculos em volta dos bailarinos.
Todos os acontecimentos da vida africana eram comemorados com dança, nascimento, morte, plantio ou colheita; a dança era a parte mais importante das festas realizadas para agradecer aos deuses uma colheita farta.
Se pararmos para observar veremos como nossa cultura é bonita. A dança - enquanto forma de expressão corporal - possui uma linguagem onde cada gesto significa e representa ideias, sentimentos, emoções e sensações. É na dança que se manifesta a tradição milenar da cultura negra de reverenciar as origens. Isto ocorre cada vez que se repetem gestos ancestrais. Conduzindo ao reconhecimento da necessidade de manter viva a ligação com os antepassados, que praticaram os mesmos atos. Nisto reside à grandeza da dança negra. E no respeito aos que geraram a vida.
O balanço dos braços, o arremesso dos pés, o meneio do tronco e dos quadris, a harmonia de todo o corpo em gestos que não perdem a continuidade. Tudo isso fala de um povo e de uma cultura que sofreu, foi massacrado, porém que hoje quer manter viva sua identidade, sua negritude.
Dança aí, Nego Nagô! Dança aí, Nego Nagô!
(*) Elias Queiroz
Seminarista da congregação Nossa Senhora da Salette.
Graduando em Filosofia pelo Instituto Santo Tomás de Aquino-(ISTA).
Belo Horizonte – MG.